Novo Ano, Novo Orçamento
Com a entrada no ano de 2025 é importante criar ou reforçar as boas práticas de gestão financeira de cada um. Ter um orçamento familiar bem planificado e realista ajuda a gerir imprevistos, permite otimizar a qualidade de vida e potencia um futuro mais sólido no plano financeiro.
Para isso, é crucial conhecermos o nosso orçamento e estabelecer objetivos realistas. Devemos planear antecipadamente como ponto de partida, colocar na prática o nosso plano e, quando necessário, ajustar em função das circunstâncias.

Algumas dicas que nos podem ajudar neste exercício:
- Investir em literacia financeira
A primeira dica que me parece essencial é a constante aposta no conhecimento. É importante investirmos regularmente no nosso conhecimento, nos vários domínios, e a literacia financeira não é diferente. Vivemos numa época em que as fontes de informação são inúmeras e devemos aproveitá-las, sempre com critério, espírito crítico e percebendo o que pode resultar melhor para cada um.
Não há fórmulas mágicas para ganhar dinheiro rápido – a menos seja um feliz contemplado com uma lotaria (probabilidade de se ganhar o Euromilhões é de apenas 1 em 139.838.160) ou receba uma herança choruda – portanto, o melhor mesmo é termos conhecimentos financeiros sólidos para colocarmos em prática e continuarmos ativamente a aprender.
Procure informações na internet, ouça podcasts sobre finanças pessoais ou compre livros sobre a matéria. O objetivo é continuar a aprender, perceber o que pode funcionar e aquilo que efetivamente não funciona para si.
- Criar um orçamento familiar
Para podermos estabelecer objetivos realistas, temos de perceber qual é o nosso orçamento de base. Ou seja, o que entra (rendimentos) e o que sai (despesas). Pode fazer um orçamento utilizando várias ferramentas, entre o simples excel, apps dos bancos, entre muitas outras disponíveis. É importante registar:
- Rendimentos líquidos;
- Rendimentos brutos, para se familiarizar com os impostos e contribuições para a segurança social.
No plano das despesas, devemos segregar entre aquilo que são:
- Despesas fixas – como a renda, prestação ao banco, creche ou escola dos filhos, passe de transporte;
- Despesas variáveis – utilities como eletricidade, gás, água, telecomunicações ou custos com combustíveis, compras de casa, entretenimento, etc
- Despesas relacionadas com imprevistos (gastos extraordinários ou one-offs) devem ser registadas – como seja trocar um pneu do carro, comprar um eletrodoméstico ou uma intervenção médica.
Faça esse exercício todos os meses para poder acompanhar de perto a evolução do seu orçamento.
- Gerir as despesas:
Depois de fazermos um exercício de diagnóstico aos nossos rendimentos e gastos e percebermos, de forma mais rigorosa, o nosso orçamento, podemos olhar criticamente para as várias rubricas em função das circunstâncias de cada pessoa.
No caso das despesas devemos sempre preservar aquilo que são as despesas essenciais e perceber se há ou não poupanças possíveis que faça sentido explorar, utilizando, por exemplo, sites que agreguem informação de mercado com comparativos de preços ou estar a atentos a possíveis promoções.
Nas despesas mais secundárias ou até supérfluas, poderá haver itens que possamos cortar logo à cabeça.
Não obstante, para evitar fundamentalismos, partilho uma regra interessante que li há tempos num livro e que, por vezes, tento aplicar: a chamada 2xRule, sempre que se quer comprar algo – vamos imaginar, uns sapatos – devo poupar/investir o valor equivalente ao preço dos sapatos. Neste exemplo, se os sapatos valem € 50, devo também colocar de lado uns € 50 extra para investir esse montante para o futuro (por exemplo, em certificados de aforro). Cada um deverá fazer o seu exercício e perceber o que funciona ou não, ajustando em função das circunstâncias. Lembre-se, o orçamento é apenas um instrumento que nos ajuda a gerir os meios financeiros, com vista a uma melhor qualidade de vida.
- Gerir os rendimentos
Do lado dos rendimentos, além do salário que pretendemos ver aumentado ao longo dos anos, podemos ter ideias empreendedoras (e.g. negócio online), fazer alguns “biscates” (como dar explicações) ou alocar capital a rendimentos passivos (como sejam títulos que gerem juros, dividendos ou mais-valias).
Nota importante quanto à potencial armadilha do aumento dos rendimentos: devemos ter o cuidado de não aumentar as nossas despesas na mesma proporção do aumento dos rendimentos, para não cair numa certa armadilha. Imagine que é aumentado em € 200 líquidos e decide, em simultâneo, gastar mensalmente esse mesmo montante. Na prática, acaba por não poupar nada.
Portanto, sempre que tenha um aumento dos seus rendimentos, seja por aumento salarial ou por aumento de outras fontes de receita, pondere bem como deve alocar esse aumento, logo à cabeça, na sua estratégia orçamental.
- Saber que impostos paga
Familiarize-se com o sistema fiscal e contributivo. É importante termos consciência dos impostos e contribuições sociais que pagamos e do contrato social que esses instrumentos visam sustentar. Também perceber os valores que as nossas entidades empregadoras pagam para ter total consciência do que envolve contratar ou aumentar os colaboradores.
No caso das finanças pessoais destacaria o IRS para poder explorar em maior detalhe. Veja como pode ter uma estratégia mais eficiente que lhe permita poupar no valor que paga ao Estado. Esteja atento às várias possibilidades existentes e atualize-se com as constantes novidades fiscais.
A título exemplificativo, explore se pode beneficiar de regimes de incentivo como:
- IRS Jovem (faça contas para perceber se quer o benefício mensal ou no final do ano, já que poderá haver casos em que, em vez de reembolso, poderá ter um valor a pagar);
- Programa Regressar;
- Incentivo Fiscal à Investigação Científica e Inovação.
Através dos simuladores disponíveis, incluindo no próprio Portal das Finanças, veja se faz sentido entregar o IRS em conjunto ou em separado no caso de casais. Se auferir rendimentos passivos, como dividendos, juros ou rendas, estará tipicamente sujeito a uma taxa de 28%, mas veja se no seu caso poderá ou não compensar englobar esses rendimentos (caso a consideração desses rendimentos – note que a opção de englobar ao ser exercida obriga ao englobamento de todos os rendimentos dessa categoria de IRS – a par dos restantes implique uma aplicação de uma taxa efetiva de tributação inferior a 28%).
No plano das deduções, há várias deduções à coleta que poderá beneficiar até determinados limites:
- Consoante a natureza dos seus gastos – como gastos com restauração, educação, saúde, entre outras (lembre-se que precisa de pedir fatura com número de contribuinte para poder usufruir de uma dedução à coleta de IRS);
- Gastos com a renda de casa – pode deduzir até um certo valor, mas necessita de ter o contrato registado nas Finanças e de ter esse arrendamento como habitação permanente;
- Investimento em produtos como PPR ou seguros – que poderá permitir, em certas circunstâncias, deduções adicionais ou taxas reduzidas no resgate).
São várias as opções que deverá tentar perceber em antecipação, ou seja, durante o ano fiscal e não apenas à posteriori quando vai entregar o IRS.
Por outro lado, esteja atento às regras fiscais dos seus investimentos, já que entre o rendimento bruto e o rendimento líquido pode haver uma diferença mais ou menos significativa, consoante os casos.
- Criar um fundo de emergência
Com um orçamento realista e devidamente calibrado, vamos então criar um fundo de emergência – o chamado “pé-de-meia” – que nos permite gerir situações de imprevisto.
Lembra-se quando referi acima as despesas “one-off”? Pois bem, por vezes podemos ter um gasto inesperado, como seja um problema com o carro, um eletrodoméstico avariado, uma intervenção médica, etc. Se pudermos antecipar essas necessidades, que inevitavelmente poderão ocorrer, teremos maior capacidade, financeira e psicológica, para as gerir.
Um fundo de emergência olha para um horizonte temporal mínimo (em regra, seis meses) e visa garantir que dispomos de meios financeiros para satisfazer as nossas despesas essenciais durante esse período.
A sugestão é que possa alocar todos os meses uma parte dos rendimentos disponíveis a esse fundo de emergência, utilizando produtos de baixo risco (por exemplo, depósitos ou certificados de aforro) que lhe permita não arriscar capital (produtos com capital garantido) e, ao mesmo tempo, mobilizar rapidamente esse dinheiro para as situações extraordinárias.
- Estabelecer objetivos realistas
Com o nosso orçamento e pé-de-meia de segurança podemos estabelecer metas de curto, médio e longo prazo.
Por exemplo, no curto prazo posso querer ir viajar no próximo ano, a médio prazo querer dar uma entrada para uma casa e, a mais longo prazo, ter um valor mínimo que me dê maior segurança para a reforma.
Os objetivos dependem de cada pessoa ou casal e do perfil de risco que cada um possa ter. O perfil de risco é precisamente a predisposição que tenho a arriscar mais capital, podendo ganhar mais, mas também perder mais ou, em sentido oposto, ser mais avesso ao risco e, como tal, preferir jogar pelo seguro, com menor risco de perda, mas, naturalmente, menor exposição a ganhos.
Trata-se, portanto, de um exercício pessoal e que deverá ser feito e atualizado em função das circunstâncias de cada um.
- Não ignore o efeito da inflação
A inflação é muitas vezes vista como um certo “imposto oculto” e traduz-se no aumento generalizado do preço dos bens e serviços disponíveis.
Assistimos a um período de inflação historicamente baixa ao longo da última década. O acesso ao dinheiro era barato, o que permitia recorrer mais facilmente a crédito, com valores mais baixos.
No entanto, desde o phasing-out da pandemia, com choques principalmente ao nível da oferta, e com o cenário geopolítico na Ucrânia, viemos a assistir a uma crise inflacionista significativa.
- Nos últimos 3 anos e de forma generalizada, assistimos ao aumento do custo dos bens e serviços (em particular dos combustíveis e bens alimentares que, enquanto bens mais primários, acabam por contaminar boa parte da economia), tendo sido registado o seu pico em 2023.
- Atualmente, já numa situação bem diferente e favorável, com maior controlo da inflação e perto do objetivo do BCE (2%), é importante estarmos sempre atentos à sua evolução.
Se o salário aumenta 2%, mas a inflação aumenta 3%, continuamos a perder dinheiro silenciosamente, já que o aumento dos custos dos bens faz erodir o nosso poder de compra.
Na sua estratégia, em particular no que respeita à dica seguinte, pondere como pode alocar de forma eficiente o seu capital. Mesmo que tenha um perfil de risco conservador, procure produtos de baixo risco que possam apresentar retornos acima da inflação.
- Poupar e investir
Com a definição dos nossos objetivos, devemos então estabelecer práticas ou regras para cada pessoa, tendo em vista concretizar as metas definidas.
Posso, por exemplo, querer alocar entre 10% a 20% do meu salário a poupanças e investir esse dinheiro em diversos produtos. Aqui dependerá da disponibilidade de cada um e dos objetivos estabelecidos. Importante é:
- Por um lado, pagar-se a si primeiro, ou seja, quando recebe poder logo alocar esse dinheiro para uma conta, e garantir que esse objetivo está assegurado à cabeça. Não espere para ver o que sobra no final do mês.
- Por outro lado, ao investir esse valor, deverá ter como princípio a diversificação da sua carteira. Não coloque todos os ovos no mesmo cesto. Sabendo qual o perfil de risco, poderá alocar esse valor a diferentes produtos como depósitos a prazo, certificados de aforro, obrigações, ações, ETFs, unidades de participação, PPRs, etc.
Importante é definir uma estratégia em função dos seus objetivos e do seu perfil de risco, conhecer os investimentos que está a realizar (leia os prospetos e demais documentos de informação disponíveis) e lembre-se que retornos passados não significam retornos futuros.
- Saber quando recorrer ao crédito
O recurso ao crédito não é algo mau, mas, quando mal gerido, pode ser um problema para muitas famílias.
O crédito é algo que fomenta a atividade económica e nos permite aceder a bens e serviços que, pelo seu valor, dificilmente conseguiríamos aceder. O exemplo mais paradigmático é o crédito à habitação, instrumento que nos permite comprar uma casa, com a obrigação de pagar ao banco uma prestação periódica, que consiste no pagamento de juros (taxa fixa, mista ou variável), comissões e capital ao longo de um período de tempo, dando a casa como garantia ao banco.
O crédito também poderá ser usado para uma necessidade imperiosa, como seja uma operação de urgência ou, numa vertente mais empreendedora, para começar ou escalar um negócio. Tudo razões válidas e que, com consciência, podem ser úteis para a realidade de cada um.
No entanto, o recurso ao crédito deve ser feito sempre com cautela e com conhecimento de causa para evitar gastos supérfluos e uma potencial espiral negativa de dívidas.
Portanto, reforçando a primeira dica, invista sempre na literacia financeira e no acesso à informação e verifique se, quando e em que termos precisa de recorrer ao crédito. Caso necessite, veja diferentes opções no mercado ou contrate algum profissional para o ajudar e verifique quais os termos e condições de cada produto para ter pleno conhecimento das obrigações a assumir, bem como das demais condições aplicáveis (as chamadas letras pequenas).
Estas são apenas algumas dicas que podem ajudar na construção de um melhor futuro financeiro. Aqui chegados, é tempo de desejar: bom ano e bom orçamento!

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